Nos últimos anos têm sido comum ouvir e ler a palavra bullying nas redes sociais, nos meios de comunicação em geral e até mesmo dentro das rodas de conversas entre amigos e familiares. Essa disseminação do termo em todas as esferas da sociedade foi extremamente positiva, pois abriu os olhos das pessoas para uma problemática que sempre existiu, mas para qual se dava pouca importância. Por outro lado, a falta de informação consistente fez com que o fenômeno bullying acabasse banalizado e pouco compreendido, sendo muitas vezes ironizado como algo de pouca relevância. Quantas vezes você já ouviu, em tom irônico, frases do tipo “Eu sofri bullying e sobrevivi” ou “Isso sempre teve, mas agora é moda da nova geração chamar tudo de bullying”?
De maneira geral, é compreensível que as pessoas fiquem confusas, pois, de fato, o bullying sempre existiu. Entretanto, subestimar a gravidade deste comportamento violento é algo perigoso e que precisa ser evitado. Sei que tal situação ocorre porque o conceito de bullying não é claro para a maioria das pessoas. Assim, a população acaba entendendo, de forma equivocada, que qualquer confronto pode ser chamado de bullying, e isso não é verdade. Por isso, vamos esclarecer alguns pontos: todo bullying é uma agressão, mas nem toda agressão é bullying, ok? Essa tem sido a frase que sempre utilizo para começar a explicar o que caracteriza tal comportamento. Por que? Porque o bullying possui características próprias e específicas, diferentemente de uma agressão esporádica ou ocasional, ou uma rixa entre grupos rivais, por exemplo.
Então, o que é bullying? Podemos dizer que bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais, repetitivas e sistemáticas, que ocorre sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra um ou outros, causando dor e sofrimento às vítimas. O bullying não é ocasional e ocorre apenas entre pares em idade escolar, sendo uma estratégia coerciva que visa alcançar e manter posições mais elevadas na hierarquia social do grupo, e embora tenham sempre a presença de público espectador entre os pares, ocorre de forma sigilosa e despercebida, não manifestando ações explícitas que possam ser identificadas pelos adultos, fazendo com que a vítima não tenha possibilidade de defesa. É caracterizado também pela relevante desigualdade de poder entre alunos agressores e vítimas, sendo que o ato agressivo não resulta necessariamente de uma provocação, mas com a persistência e a intencionalidade dos agressores, as vítimas passam a concordar com as ofensas sofridas, muitas vezes acreditando serem merecedoras de tamanho sofrimento.
É importante salientar que a ocorrência de bullying entre crianças e adolescentes não é exclusividade de uma ou outra sociedade. Embora existam diferenças em relação as prevalências, causas, e determinadas características do bullying e seus envolvidos, conforme a cultura da escola em que essas agressões ocorrem, sabe-se que este é um fenômeno global, que ocorre de forma generalizada em todo o mundo, tanto em culturais ocidentais quanto orientais, em escolas públicas ou privadas, em países ricos ou pobres, e por isso já é considerado um problema de saúde pública. Desta forma, negar a ocorrência de bullying nas escolas é um grande erro, pois estamos mascarando uma realidade que pode trazer ainda mais sofrimento às crianças e adolescentes. Assim, o primeiro passo é trazer luz ao problema, para que possamos encontrar ferramentas de combate e prevenção a esse tipo de violência dentro das escolas. Falar e refletir sobre bullying, seja nas aulas ou em casa, é, e sempre será, muito positivo, principalmente para os nossos maiores interessados: as crianças e adolescentes!
Marcela Zequinão é Profissional da Educação Física, graduada pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC. Possui Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado com pesquisas focadas em como lidar com o Bullying e seus desafios.
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