COMPETIÇÃO PARA TENISTAS ATÉ 10 ANOS, ESTIMULAR OU NÃO?

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COMPETIÇÃO PARA TENISTAS ATÉ 10 ANOS, ESTIMULAR OU NÃO?

A participação das crianças em competições ainda um é tema bastante discutido na área da pedagogia do esporte. Os autores contrários alegam que as mesmas não estão preparadas para os desafios encontrados nesse ambiente, o que poderia gerar frustrações. Por outro lado os autores que enfatizam a participação nas competições defendem que uma frequência elevada oportunizará vivenciar as vitórias e as derrotas, contribuindo para o aumento da motivação.

Analisando os argumentos dos autores contrários, verifica-se que os principais problemas alegados estão associados à falta de capacidade delas para responderem as demandas da tarefa e para lidarem com as expectativas criadas em torno da competição. Mas se as crianças não são capazes de responder aos desafios propostos, será que os desafios são realmente adequados e o modelo de competição é pensado às crianças? Ou esse formato é baseado nos modelos adultos de competição, onde apenas os mais fortes se sobressaem, cabendo às crianças se adequarem?

Acredito que a competição para crianças pode e deve ser estimulada, uma vez que a competição é inerente ao esporte. O que precisamos repensar é:

– quais os objetivos da competição para essa faixa etária?

– que adaptações estruturais e funcionais deveriam ser realizadas para que esses objetivos possam ser alcançados?

Para as crianças, o objetivo principal da competição é contribuir para a formação, sendo um excelente meio para a promoção de valores positivos. Nesse ponto, o tênis se destacada como uma modalidade ímpar. O código de conduta da modalidade é extenso e estimula a atitudes positivas e o fair play. Para exemplificar, nos torneios infantojuvenis não há a presença do árbitro em quadra, cabendo às crianças e jovens envolvidos na partida, a responsabilidade de conduzir o jogo. No circuito profissional esse cenário não é diferente, com frequência os jogadores corrigem as marcações da arbitragem e parabenizam o adversário pelas jogadas.

Para que a competição possa auxiliar na formação das crianças é preciso que a mesma seja pensada para elas. Todos os agentes envolvidos (pais, treinadores, dirigentes, árbitros, entre outros), precisam trabalhar em prol de objetivos comuns, tendo as crianças e suas expectativas com relação à competição e ao esporte como elo. Competições formais, que reproduzem o modelo adulto, realizadas em um ambiente repleto de pressões e que supervalorizem os resultados e os atletas campeões, não se adequam às expectativas desses jogadores.

A competição ainda cumpre um papel fundamental no desenvolvimento técnico-tático básico. No entanto, para que isso ocorra, é preciso que haja adaptações estruturais e funcionais que possibilitem ajustar as condições de prática, ás capacidades momentâneas apresentadas pelos jogadores. Na busca pela a vitória na competição os tenistas procuram direcionar as suas principais jogadas nos pontos fracos do adversário. Em princípio isso pode parecer danoso, mas se o nível de disputa estiver realmente ajustado, essa oposição de forças é extremamente benéfica para a melhoria dos aspectos técnico-táticos, possibilitando um número elevado de oportunidades para treinar os pontos débeis em situações reais de prática.

Muitos treinadores acreditam que expondo os jogadores à competição, com tenistas de nível técnico significativamente superior, estariam contribuindo para o desenvolvimento dos seus jogadores, o que é um grande equívoco. A incapacidade de corresponder satisfatoriamente às demandas competitivas, é que muitas vezes impulsiona os sentimentos negativos com relação à competição, como ansiedade, falta de motivação, estresse, entre outros.

Do ponto de vista estrutural e funcional, diversas combinações de materiais, contagens e formatos de disputa poderão ser utilizadas. As adaptações à competição propostas pela Federação Paranaense de Tênis (FPT) poderiam ser citadas como exemplo, tendo em vista que a FPT foi pioneira no Brasil na alteração do formato competitivo para crianças até 10 anos de idade. O formato atual proposto pela FPT permite que as crianças dessa faixa etária optem por competições individuais ou por equipes, pela utilização de diferentes tipos de bolas, tamanhos de quadras, e consequentemente por adversários com nível técnico mais ajustado às capacidades individuais. Essas alterações possibilitam adequar as demandas da competição às condições técnicas momentâneas apresentadas pelo jogador, garantindo o equilíbrio entre os participantes e possibilitando a todos o êxito nas tarefas desenvolvidas.

Apesar da oferta de eventos de duplas ser baixa para tenistas até 10 anos, ela deveria ser amplamente estimulada para essa categoria. O jogo de duplas serve como uma excelente ferramenta para o desenvolvimento da técnica-tática básica. Nas duplas, o espaço a ser coberto por cada jogador é menor o que reduz as demandas da tarefa e possibilita a execução de jogadas pouco habituais nos jogos de simples para essa faixa etária, como os voleios e smashs. Além desses fatores, o jogo de duplas é um jogo de equipes onde as responsabilidades são divididas entre os jogadores, reduzindo as pressões naturais vivenciadas pelas crianças nas primeiras experiências competitivas.

Preferencialmente o modelo competitivo adotado deveria ser o Rond Robin, que é um formato de disputas por grupos onde todos os jogadores se enfrentam dentro do próprio grupo. Para além de garantir um bom número de jogos, independentemente dos resultados dos confrontos, o Rond Robin contribui à diversificação dos adversários enfrentados dentro de uma mesma competição. Torneios no formato de eliminatória simples deverão ser evitados nessa faixa etária. Caso seja inviável a realização de outros formatos de disputa, em razão do elevado número de inscritos, sugere-se ao menos a realização de uma chave de consolação.

Finalizo este artigo reforçando que a competição para crianças até 10 anos, desde que bem orientada e ajustada às capacidades às crianças, pode e deve ser estimulada. A competição contribui como meio de formação e para o desenvolvimento técnico-tático. Fazer bom uso dessa ferramenta é uma das responsabilidades dos agentes envolvidos com a prática esportiva infantil, que deverão considerar em primeiro lugar, os reais objetivos da competição para essa faixa etária.

CORTELA, C. C. Competição para tenistas até 10 anos, estimular ou desencorajar? Revista Ace Tennis, Curitiba, v. 1, p. 4-6, maio, 2015.

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